Total de visualizações de página

Seguidores

domingo, 16 de março de 2008

Parla!

Escrevo aqui uma versão e leitura pessoal do famoso mito do "parla!".

Segundo consta em conversas de botequim quando as bolachas de chopp formam uma réplica da torre de Pisa e a turma do funil começa a pisar com "os pé redondo", esta expressão foi proferida por Michelangelo ao finalizar e tomar ciência da perfeição de sua obra Moisés. De lá pra cá e considerando que a narrativa inclui uma pancadinha no joelho do patriarca de pedra dada pelo criador-artista, isto que estou chamando de mito tem sido utilizado como forma de expressar o espanto com a perfeição da própria obra , que só faltaria "parlar" de tão real e impressionante (e ,no caso daqueles que já viram o tal Moisés, diz-se que a estupefação é merecida).

Eu proponho uma outra interpretação.

Cada vez que se cria uma obra, seja qual for, um poema, uma salada sublime, o Grande Sertão:Veredas ou bissextas produções diletantes, se o processo é daqueles que realmente vão fundo na essência da arte, da criação que é meio transcendente, do fato estético, misterioso e sutil; acredito que a gente tem uma sensação semelhante à do Seu Buonarroti. Primeiro, a de que a obra começa realmente a ganhar vida própria, não por seu extremo realismo ou perfeição na representação de algo, mas pelo fato de realmente começar a ganhar corpo e ter um formato completo, ser um todo em si.

Daí, o próximo passo é que essa vida se torne independente, como deve ser qualquer processo saudável de criação, seja a de um poemeto ou dos filhos e filhas ou mesmo de alunos que a gente porventura tenha.

Então, com substância própria e autonomia, a obra verdadeira, seja um colosso produzido por um gênio da raça ou algo bem modesto, quando passa por esse território misterioso da expressão parece que começa a clamar para dizer alguma coisa pra gente. Aí é a hora de publicar, mandar por moldura, gravar a música, recitar o poema no sarau do colégio... Quando a obra quer te dizer alguma coisa, é porque está pronta.


Muitos compêndios e tratados já foram escritos e muito se debateu sobre estética, o sublime, metáfora e outras maneiras de tentar explicar a sensação que se tem perante a "grande arte".

Eu sigo buscando, naquilo que faço e no que aprecio, a misteriosa palavra que tem cheiro e cor, o som que tem forma, a forma geométrica que expressa e pensa e muito mais. E pedindo encarecidamente a cada uma destas canções, poemas, romances, sonatas, profecias, pietás...:

"Parla!"

sexta-feira, 7 de março de 2008

NA CAÇAPA DO MEIO

Elisabeth, Elisabeth
Gastei nosso lance mas matei a bola sete
Elisabeth, Elisabeth
Gastei nosso lance mas matei a bola sete

Você sabe como eu fico
Quando tem pano verde e muvuca
Você lá em casa de bico
E eu aqui nessa sinuca

Eu até que falei: “vou me embora”
Bem logo depois da primeira
Mas neguinho falou: “vira o disco”
Chamaram belisco
E mais saideira...

REFRÃO.

Aqui a cuíca ronca
Tem pandeiro, tantan e cavaco
Lá em casa é uma pá de bronca
Eu vou cavando o meu buraco

Bem que eu quis ir embora mais cedo
pra evitar rolo... de macarrão
Mas na mesa dormiram de touca
Olha a sete na boca
É demais pra um cristão!

REFRÃO.

'Cê 'tá certa, não se deve
Fazer isso, 'tou arrependido
Mas decreta um cessar-greve
E vem pros braços do seu querido

Eu já 'tava até com o pé pra fora
Pro meu filme não queimar tão feio
Mas não vou dizer que foi vacilo,
Eu fi-lo porque qui-lo
E na caçapa do meio!

REFRÃO.

FÉ, FESTA

Cantando pra subir,
Cantando pra descer
No fim dessa estrada, depois dessa serra
Eu quero te ver
Depois dessa serra, no fim dessa estrada
Eu beijo você

Meu amor por você
Parece devoção
Mas é com São Benedito,
Pra Santo Antônio e no São João
Que eu rezo dançando
E agradeço por ter nascido aqui
E por ter estado um dia
No estado em que te conheci

O brasileiro gosta de dançar em fevereiro
E a brasileira gosta de pular no carnaval
O ano inteiro, o dia inteiro, o corpo inteiro
Timbau e caixa, pandeiro, repinique, berimbau

Mas tem que bater o pé no chão
Mas tem que bater o pé no chão
Com fé, fé, fé e festa!
Com fé, fé, fé e festa!

NOSSO POVO

Quando Deus criou o homem
Nu, feliz, sem trabalhar
Vivendo no paraíso, pois o mundo era o seu lar
Da costela a companheira
Morena boa, faceira
Toma o sol que lambe a terra e gera os frutos que se comem
(a mulher e o homem)

Desde aquele tempo nunca mais houve paz
E o filho já matou seu irmão
E os paraísos já não existem mais
Foram descobertos, quisessem ou não

Diz que aqui era um desses
Que plantando tudo dava
Pau vermelho, cana doce, pedra verde e gente brava
No lugar do dono bugre
Vão plantar os seus costumes
Suas cruzes, compra e venda, força bruta e seus perfumes
(que cordialidade!)

Mas como é que pode esse povo que se dá?
Mora num celeiro onde falta pão
Fruto da mistura de tudo quanto há
Roubo, catequese e escravidão

No navio que trouxe os negros
Os pais da nossa alegria
Ferro em brasa, soledade, chicote e corrente fria
No sertão a seca doida
Devastando o morador
Que, no entanto, canta e dança para esquecer a sua dor
(que dor da moléstia)

Mas chegou a hora da gente merecer
Essa alegria que aqui já tem
E como foi dito, fazer acontecer
Que de cima nunca é que vem,
Vem!

BANZO – ABOIO DA SAUDADE

No fim da tarde
Um triste aboio
Tangendo o fumarento comboio
Sereias de canto estridente
Chamando ao trabalho um mar de gente
E mais um dia e mais um ano
Pau p’ra toda obra, martelo alagoano

Ai, meu Deus, quando eu voltar p’ro norte
Vou ter que ser muito forte p’ra na hora não chorar
Sei que esse é meu destino
Paulistano e nordestino
Sempre longe do meu lar

Mas se, de fato, o cidadão
Não é planta nem boiada
É dentro do coração
Que suas raízes estão fincadas
E ele as leva dentro do peito
Cada vez que bota o pé na estrada

Ai, meu Deus quando eu voltar p’ro Norte
Sei que vou ter muita sorte
E motivos p’ra me alegrar
Sou cabra de tino e tutano
Nordestino e paulistano
Bem-vindo em qualquer lugar !

quinta-feira, 6 de março de 2008

CARPE DIEM - Jorge Lampa

Eu não sei dizer quando tudo começou
Nem como começou, eu só que surgiu e saía
Pela minha voz...
E depois foi entrando por todos os poros
Por olhos e boca,
Teu cheiro, teu toque, a valsa
De nós dois a sós...
E tudo volta, tudo gira
Tudo tá muito veloz

Eu só quis dar algumas palavras marcantes ao que aconteceu e ficou
Marcado em nós.

Se o tempo e a distância esfumaçam teu rosto
Ou então se a lembrança de ti vem pra mim
Como assim
Uma espécie de algoz
E se a dança, a delícia, a poesia, a alegria, a festança
De tudo
Deforma-se num sentimento
De saudade atroz
Tá tudo longe, tá tudo errado
Desamarraram-se os nós

Eu só quis dar algumas palavras marcantes ao que aconteceu e ficou
Marcado em nós.

Mas se a tua presença se instala de novo
Trazendo consigo o calor, a clareza e o brilho
De mais de mil sóis!
E se quando a luz se recolhe a gente se escolhe
E resolve que é hora então de por
Entre os lençóis
Eu colho o dia
Que nasce agora
E quero mais um logo após.

Eu só quis dar algumas palavras marcantes ao que aconteceu e ficou
Marcado em nós.