Toda viagem deveria ser cultural.
Uma das qualidades do grande e controverso Mário de Andrade era seu entusiasmo pelo Brasil e pelas coisas desse baita país, sua gente, suas danças e músicas e tal. Aspectos desse interesse que conduziram à sua “viagem da descoberta do Brasil” de 1924 e à “viagem etnográfica” de 1927 (“viagens pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia, por Marajó até dizer chega”) que resultaram no diário denominado “o Turista Aprendiz”, publicado em 1943 e depois em 1977. Também com o mesmo nome ele escreveu crônicas diárias para o jornal “Diário Nacional” em 1928/29.
Depois disso, o excelente grupo “A Barca” realizou um trabalho de cd (lançado em 2000) e shows, recriando os manuscritos de pesquisa folclórica do mestre e vivificando sua obra e legado. Esse trabalho também se chamava “O Turista Aprendiz”.
Portanto, não é plágio não, mas sim com a liberdade da chamada pós-modernosamente “referência” que tomo esse título para as descrições destes humildes andejamentos e da paixão que os move. Além do que, é uma forma de retomar do Mário esse ímpeto de aprender com e apreender outras formas dentre as muitas possíveis de ser brasileiro. E aí poder pintar nossa aldeiona para ser do mundo.
Outra referência que tomo livremente é a do “Brasil dos Viajantes”, livro e exposição dos anos 90 que traziam o legado daqueles viajantes que palmilharam o Brasil colônia e o império, pintando, descrevendo, catalogando, amaldiçoando ou se estarrecendo com paisagens, calores, pessoas, fauna e flora. Debret, Rugendas, Eckout são alguns deles. Talvez o primeiro tenha sido Caminha.
Bem depois disso, inspirados pelos hippies, muita gente pôs o pé na estrada e se prestou a descobrir um Brasil que cada vez existe menos: aquele da carona de caminhão e de praias quase virgens onde se podia conviver com os nativos por alguns dias e pouca grana. Aí Trancoso foi conquistada pelos italianos, litoral norte de São Paulo pela especulação e outros paraísos tardios foram caindo. Se houver algum ainda, não conte pra ninguém. Ou só pra a galera “sangue bom” que saberá preservar o lugar também com uma sutil discrição.
Esse seria o “Brasil viajante”, embalado pelas mais variadas trips daquele momento (que hoje parecem todas meio ingênuas) que de certa forma continua encantando quem o descobre, principalmente quem sai das cada vez mais fumacentas cidades grandes de nossa Terra de Vera Cruz para alguns “sonhos felizes de cidades” onde rolam as mais variadas brazucagens de congo, coco, maracatu, ciranda, pife e ijexá.
E é um Brasil viajante mesmo: as cachoeiras de Minas, o mar do Nordeste (da costa toda – olha Ubatuba! Olha Floripa!), montanhas, cerrados, tamanduás, guarás e lobos-guarás; cupinzeiros repletos de larvas luminescentes de vaga-lume, a noctiluca (o plâncton que brilha no mar) formando marés que lembram nebulosas... O mundo é lindo, a Terra é boa, mas o Brasil... é viajante, não é?
Então é isso, este aprendiz de turista aprendiz acaba de voltar de uma viagem pela cidade da Bahia, dessa vez bem apaixonado por essa velha conhecida. Além de tudo, acho que foi efeito dessa postura de etnógrafo de araque que se diverte e se encanta, com a beleza, o detalhe, a riqueza de sons e mitos de uma gente que vive naquele pedaço de universo, de mundo, de Brasil.
É o que passo a contar pra vocês.
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