O QUARTO PRATO
Quatro pratos.
Ninguém falou nada
quando eu, mais uma vez peguei quatro pratos e seus talheres respectivos
enquanto a Clau pagava o rapaz da pizza.
Das outras vezes vinha a
chateação, todo mundo gozando da minha cara, mas os pratos ficavam ali, já que
invariavelmente a Isabela não utilizaria, pois não gostava de pizzas.
Na verdade, nas primeiras vezes
ela até ensejou reclamações, do tipo “poxa, ninguém me espera para escolher”,
mas com o tempo vimos que isso seria inútil e passamos a “mandar brasa” logo
que a fome batia, até para evitar a tarefa de tentar achar um sabor de consenso
com ela por ali, que dificultava o processo com seus “não gosto disso e
daquilo”, p’ra no fim acabar não comendo nada mesmo.
Mas o quarto prato sempre ficava
por ali, na esperança de que, primeiro, sobrasse algum pedaço; segundo: desse
nela uma súbita e improvável vontade de comê-lo.
Mas, dessa vez o prato não
serviria mesmo para nada.
Ainda bem que não se tornou uma espécie de ritual coletivo a retirada do prato a mais em meio a toda a família e nem ele
ficou ali sobrando, nos constrangendo.
Toda a família... Éramos apenas
três pessoas.
Só o João Pedro, com sua
capacidade de observação e também de regeneração, igual aquelas salamandras ou
sei lá que bicho desses que perdem partes do corpo e a reconstroem, só ele eu
vi que percebeu e nem chegou a trocar um olhar comigo, pois eu rapidamente
inventei alguma desculpa e voltei à cozinha e devolvi à prateleira o prato
agora realmente excedente.
E continuamos nosso jantar.