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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MATULÃO DO LUA - PAIXÃO CRÔNICA, PARTE 02 - FRUTOS

Então, uma vez tendo falado das raízes dessa árvore frondosa que foi a pessoa e a obra de Luiz Gonzaga, sob cuja sombra acolhedora tanta coisa boa vicejou, vale tirar algum tempo para lembrar de quanto e como tal  influência foi marcante na cultura brasileira e na vida e obra de outros artistas que dela tiraram inspiração, alento,ensinamentos, estímulo, referências, etc., etc., etc. 

Alguns que, como Dominguinhos, deveram a ele não só a inspiração musical como ajuda direta para lançar-se da dureza da Garanhuns natal (tem outro brasileiro ilustre que vem daqueles lados, tem não?) à dignidade da carreira de artista. Decididamente seu padrinho artístico, Gonzaga inclusive lhe deu uma sanfona para apoiar a que viria a ser uma inspirada e bem-sucedida trajetória na nossa música daquele menino que tocava no  trio "Os Três Pinguins" (vide "Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira"). O Brasil, mais uma vez, agradece Seu Luiz!

Outros dois monstros sagrados da música (percebam que estou evitando uma maior particularização - da "música regional nordestina", da "música popular brasileira", e por aí... que é para frisar a importância desses cabras no panorama global da arte) se não foram tão diretamente apoiados pelo Rei do Baião, de certa forma valeram-se da visibilidade e dignidade à música e cultura nordestinas conferidas anteriormente por ele (óbvio que há outros envolvidos nesse processo, como os Turunas da Mauricéia, mas Gonzagão projetou de uma forma tremendamente marcante e pioneira no que diz respeito a trazer a cultura sonora/musical, visual/imagética, temática/poética, etc.etc. para os meios de comunicação de massa de sua época - o rádio e o disco.

Bem, mas os cabras a que me referia são duas feras chamadas Jackson do Pandeiro e João do Vale.

Poderíamos, se fosse o caso, fazer uma redução de suas contribuições à cultura pelas características mais óbvias e virtuosísticas de suas obras e dizer que um era o cara que levou a rítmica do canto (e o balanço em geral) às raias da perfeição e  o outro que aprimorou uma poética cancionista regional a níveis sublimes.

Está em dúvida sobre qual é um,  qual é o outro? Simples... OUÇA-OS!!! Sim,   "vá de Jackson do Pandeiro" e curta João do Vale de montão!!

Se vire, busque, compre, mas ouça esses cabras.

E já deve ter ouvido muito, vale lembrar. "Convidei a comadre Sebastiana..... A é i ó u, ipsilone", "Chiclete com banana" do repertório do primeiro; "Carcará" e Coronel Antônio Bento" do segundo são hits que perpassam várias gerações de sucesso e qualidade na MPB. "A ema gemeu no tronco do juremá" une os dois.

Ouviu? Ouça mais!

E vamos em frente.

Ah, a foto acima é de um juazeiro, planta que dá nome a duas cidades nordestinas importantes. Uma no Ceará, de onde era o padre Cícero. A outra fica na beira do São Francisco, na Bahia, namorando Petrolina do outro lado do rio e foi a cidade onde nasceu João Gilberto

Luiz tem uma canção que se chama "Juazeiro"... e que Gil gravou na bela trilha do filme "Eu, tu, eles..."
Outro fruto?

A frondosa árvore continua a vicejar.

sábado, 4 de agosto de 2012

ELEGIA

(Jorge Lampa)




Se minhas mãos erguem-se
em prece,
é quando ainda te desconhecem.

Mas, se ao contrário,
sem pressa
perseguem-te,
é para que jamais em vão se esqueçam.

Que as leis que regem nossos corpos
as mesmas são que as dos celestes,
provam-no os raios do sol
recolhendo-se a seus postos
quando surge o brilho recoberto por tuas vestes.

Pois, tal como um astro e outro em flerte
as rotas não escolhem,
assim me vi
cumprindo, no ato de eleger-te
a sina de girar em torno a ti.



(Obs.: não é letra de música, é poema. Mas como o Pound diz que a poesia perde quando se afasta da música e esta quando se afasta da dança, vai aqui como "LETRA E MÚSICA").